quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Ficções apocalípticas


 

Pelo termo "ficções apocalípticas", a primeira noção que se tem à mente é a daqueles filmes que passam no cinema que terminam quase sempre com a Terra semidestruída, grosso modo.
 
Apocalipse é algo que nos impacta muito, é verdade. A escatologia, ou seja, o estudo das últimas coisas, sempre chama a atenção de pessoas, cristãos e estudiosos, dando assunto para inúmeros títulos disponíveis no mercado cristão atual.
 
A nova série de resenhas sobre a qual começarei a falar com este post, "Ficções apocalípticas", se refere a ficções que tenham como pano de fundo os acontecimentos do fim, partindo dos momentos anteriores ao arrebatamento da Igreja até o fim dos tempos propriamente dito - Jesus reinando para sempre em novos céus e nova terra. Dentre eles, destaco a série de James Beauseigneur "O clone de Cristo", a trilogia de Jerry Jenkins "O agente" e a multissérie e talvez a mais longeva "Deixados pra trás", de Tim La Haye e do próprio Jenkins.
 
"Deixados para trás" é muito conhecida pelos cristãos. Ocupou o posto de mais vendido do jornal The New York Times por algumas semanas. Já inspirou cruzadas evangelísticas nos Estados Unidos, uma trilogia de filmes e durou nada mais nada menos que doze volumes, onde pessoas que não foram arrebatadas por Cristo passavam por diversas aventuras e perigos para defender sua fé em um mundo assolado pelo anticristo.
 
Para ler tudo isto de forma seguida é preciso concentração. É impossível não se envolver com os heróis da trama, torcer contra as forças do mal ou vibrar quando pessoas com a marca da besta sofrem com os Julgamentos das Taças da Ira de Deus. Mas cabe avisar que tomar tudo aquilo que está escrito como verdade bíblica absoluta é temerário, pois se trata apenas de uma interpretação livre e contextualizada do livro de Apocalipse. Em alguns momentos, por exemplo, diálogos são tirados letra por letra e palavra por palavra de passagens do Antigo e do Novo Testamento, exatamente para não sofrer as ameaças contidas em Ap 22.18b-19. 
 
A sequência de acontecimentos descrita na série pode facilitar um pouco o entendimento de um livro complexo e simbólico como Apocalipse, mas não passa de uma interpretação ficcional dos acontecimentos. Todavia, se isto não for um problema pra você, pode até ficar inspirado com algumas passagens.
 
Talvez inspirados pelo sucesso da série, LaHaye escreveu ainda quatro volumes adicionais: uma sequência de um volume chamada " A vitória final " sobre o reino milenar (sim, apenas um volume para cobrir 1000 anos, enquanto os doze anteriores cobriram sete anos de Tribulação), e três pre-quels cobrindo a história dos personagens principais antes de serem ou não arrebatados.

No próximo post, falarei sobre o primeiro volume da trilogia que antecede "Deixados para Trás", que se chama " O Nascimento". Até a próxima!!!

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Dostoiévski e a existência de Deus


"Não seria melhor que você lesse, com o máximo de sua atenção, a todas as cartas de São Paulo? Ali se fala muito da fé, e de forma mais precisa que em qualquer outro texto. Recomendo a você a leitura de toda a Bíblia traduzida para o russo. Esse livro provoca uma impressão memorável em que o lê. Ganha-se, ao menos, a convicção de que a humanidade não possui, nem pode possuir, outro livro de igual importância."

Dostoiévski é, reconhecidamente, um dos maiores escritores de todos os tempos. Embora seja conhecido como autor de romances, Dostoiésvki dedicou boa parte de seu tempo escrevendo textos jornalísticos e de crítica social. Nos últimos anos de sua carreira, ele publicou com recursos próprios um períodico denominado "Diário de um escritor", onde pôde expor francamente suas opiniões sobre uma vasta gama de assuntos. Um dos resultados desse empreendimento foi uma grande quantidade de correspondências trocadas entre o escritor e seus leitores. Estes expunham a ele todo tipo de problemas e pediam sua opinião. Mães escreviam pedindo dicas sobre como criar os seus filhos; jovens procuravam saber como se tornar um escritor; e não raramente pessoas pergutavam-lhe sobre Deus.

A carta transcrita abaixo é um exemplo desse último tipo de correspondência. Dostoiévski interage com o leitor apresentando algumas razões pela quais ele mesmo acredita em Deus, mas adverte que "é pouco provável que por palavras e argumentos seja possível convencer um descrente" e recomenda a leitura da Bíblia.

Dostoiévski adere a uma forma do argumento moral para a existência de Deus. E também afirma que - ao menos intuitivamente - a própria pergunta sobre Deus e a imortalidade pode servir de indício para o teísmo, assunto tratado por Pannenberg em A pergunta sobre Deus, que resenhamos em um outro post.
 
"LXXIV. Carta a Nikolai Lukitch Ozmidov
Fevereiro de 1878.

Meu querido Nikolai Lukitch,

Deixe-me, antes de tudo, pedir perdão por minha demora em responder à sua carta, fruto de minha doença e de outros tantos contratempos. Em segundo lugar, o que posso dizer em resposta às suas perguntas, que remetem aos eternos problemas da humanidade? Será possível alguém tratar de tais questões no estreito escopo de uma carta? Se eu pudesse conversar consigo por algumas horas, seria diferente; e mesmo então eu iria falhar na tentativa de responder suas perguntas. É pouco provável que por palavras e argumentos seja possível convencer um descrente. Não seria melhor que você lesse, com o máximo de sua atenção, a todas as cartas de São Paulo? Ali se fala muito da fé, e de forma mais precisa que em qualquer outro texto. Recomendo a você a leitura de toda a Bíblia traduzida para o russo. Esse livro provoca uma impressão memorável em que o lê. Ganha-se, ao menos, a convicção de que a humanidade não possui, nem pode possuir, outro livro de igual importância. Isso é algo alheio à questão de acreditares ou não. Não posso lhe dar nenhum tipo de ideia, mas digo apenas isso: cada organismo existe no mundo com um único objetivo - viver, e não aniquilar-se. A ciência deixou isso claro e compilou diversas leis sobre as quais se prova tal axioma. A humanidade como um todo é, naturalmente, não menos que um organismo. E tal organismo tem suas próprias condições de existência, suas próprias leis. A razão humana compreende essas leis. Agora, suponhamos que não exista Deus, tampouco a imortalidade (a imortalidade e Deus são um e o mesmo - uma ideia idêntica). Diga-me, então: por que eu deverei viver decentemente e praticar o bem, se eu irei definitivamente morrer aqui? Se não há imortalidade, não preciso viver a não ser para aquele dia, e deixo o resto para depois. E se é essa a realidade (e se sou esperto o bastante para não ser pego pelas lei vigentes), por que não devo matar, roubar, furtar, ou viver à custa de outro ser humano? Pois se vou morrer e tudo o mais também desaparecerá! Seguindo por esse caminho, pode-se chegar à conclusão de que o organismo humano por si só não é sujeito à lei universal, já que ele vive, mas destrói a si mesmo - não se preocupa em manter-se vivo. Que espécie de sociedade é essa, na qual os seus membros são mutuamente hostis? Apenas a mais completa confusão pode surgir de algo assim. E isso se reflete no meu eu, que pode absorver tudo isso. Se meu eu pode captar a ideia do universo e de suas leis, então esse eu posiciona-se sobre todas as outras coisas, julgando-as, desvendando-as. Nesse caso, o eu não só é libertado dos axiomas terrenos, das leis terrenas, mas tem sua própria lei, a qual transcende o que é terreno. Mas, de onde advém tal lei? Certamente não vem da terra, onde tudo morre e desaparece sem deixar vestígios. Não será isso um sinal da imortalidade humana? Se não houvesse a imortalidade, Nikolai Lukitch, estaria você preocupado com isso, buscando uma resposta, escrevendo cartas como a sua? logo, você não pode se livrar do seu eu; seu eu não irá submetê-lo a condições terrenas, mas sim buscar algo que transcenda o terreno, ao qual seu eu sinta pertencer. Mas o que quer que eu escreva será pouco.


Deixo meus cumprimentos sinceros. Mantenha-se em sua incansável busca, pois pode ser que encontre suas respostas.

Seu servo e amigo verdadeiro,

F. Dostoiévski."

Extraído de DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Dostoiévski: correspondências 1836-1880. Tradução de Robertson Frizero, Porto Alegre: 8inverso, 2011, p. 209-210

domingo, 2 de setembro de 2012

Novo horário de atendimento na biblioteca

A paz do Nosso Senhor Jesus!

A biblioteca informa que, a partir deste domingo, dia 02 de setembro, estará aberta no horário das 18:00 às 18:45 nos domingos, para atendimento e empréstimo de livros.
Aproveite para curtir e conhecer cada vez mais a biblioteca de sua Igreja!