sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O desprezado poder da ficção

Gênero que consagrou autores como C.S. Lewis representa menos de um por cento do mercado literário brasileiro. 


C. S. Lewis

Quando utilizou parábolas para falar sobre as realidades do Evangelho, Jesus ratificou o poder que existe na ficção para transmitir valores cristãos. Seu exemplo foi replicado ao longo da história da Igreja e gerou livros antológicos, como O peregrino, de John Bunyan, e a série As crônicas de Nárnia, de C.S. Lewis. 

Nos Estados Unidos, país que é referência também no mercado editorial cristão, a literatura ficcional, já tradicional, encontra-se em franca ascensão. No Brasil, contudo, o gênero ainda enfrenta muita resistência. Segundo o presidente da Associação dos Editores Cristãos (Asec), Sergio Henrique de Lima, ela não representa um por cento dos catálogos das publicadoras evangélicas. Já o presidente da Associação de Editoras Evangélicas dos Estados Unidos (ECPA, sigla em inglês), Mark Kuyper, comemora o que chama de "era de ouro" do gênero em seu país. Na mais recente conferência anual da Associação Americana de Escritores de Ficção Cristã, seus com seus 2,6 mil membros, foi anunciado que essas obras já representam 16% do total de livros vendidos no mercado cristão dos EUA. 

O respeitado teólogo e escritor irlandês Alister McGrath, por exemplo, acaba de escrever três livros de ficção cristã, a série As crônicas de Aedyn. Dois volumes – O voo dos exilados e Os escolhidos – foram publicados no Brasil pela editora Hagnos. "Lewis provou que o caminho para a verdade é a imaginação. A série Nárnia ajuda os leitores a compreender mais profundamente o que é a fé cristã e a diferença que faz em nossa vida", afirma.

"TOCAR O CORAÇÃO" 

"Um livro ficcional leva o leitor em uma jornada com personagens que enfrentam e superam todo tipo de problemas e obstáculos", concorda a premiada escritora Rachel Hauck. Em entrevista a CRISTIANISMO HOJE, ela disse que o gênero tem o poder de tocar o coração dos leitores. Sua obra mais recente, O vestido de noiva, saiu no Brasil pela Editora Ágape, narrando a história de um personagem que perdoa seus pais por abandoná-lo. 

Ela faz uma comparação: "A ficção usa o poder da história para o leitor enxergar e sentir as realidades cristãs. Já a não-ficção ensina lições que nosso cérebro compreende – mas pode levar tempo para que sejam assimiladas e, assim, postas em prática". Criar uma cultura nacional de investimento em livros de ficção evangélica é uma tarefa árdua, na opinião de Sergio Henrique. "O problema é que envolve assuntos culturais. É preciso que surja um livro impactante, como foi a saga Crepúsculo". 

Só que, para Alister McGrath, uma obra com tal impacto só chegará às livrarias se o ciclo vicioso que se construiu sobre essa questão for rompido: como as editoras não investem no gênero, escritores que poderiam criar ótimas histórias ficam desestimulados, pois sabem que não terão como publicar seus livros. Logo, esses autores de qualidade permanecem escondidos e sua produção não chega ao mercado. Desatar semelhante nó é o caminho para que o leitor brasileiro possa desfrutar do valor – e, por que não dizer, das bênçãos? – da literatura cristã ficcional.

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