sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Jornada pela Liberdade


Dirigido por Michael Apted e estrelando Ioan Gruffudd, Jornada pela Liberdade (título original em inglês: Amazing Grace) conta a história, baseada em fatos reais, de William Wilberforce.

O personagem principal da trama, Wilberforce, foi um político do final do século XVIII que iniciou sua carreira bem jovem, aos 21 anos já havia sido eleito para o parlamento britânico. O filme retrata a conversão de Wilberforce ao cristianismo e como essa extraordinária mudança repercutiu em todos os aspectos de sua vida, especialmente em sua atuação como parlamentar. Assim que convertido, Wilberforce pensou em largar a carreira política para servir a Deus como pregador. Porém, graças à influência de William Pitt, seu grande amigo e posteriormente um dos mais memoráveis primeiros-ministros do Reino Unido, Wilberforce decide permanecer na política convencido de que era possível ser um instrumento da vontade de Deus na direção dos assuntos de Estado.

Tendo entrado em contato com um grupo de cristãos engajados na reforma de sociedade conhecido como "Seita de Clapham", é lançado a Wilberforce o desafio de liderar no parlamento a luta contra a escravidão. Wilberforce horrorizado com o tratamento cruel e desumano dado aos escravos negros desde sua captura, passando pelo inferno das viagens em navios negreiros, até os trabalhos extenuantes entremeados por castigos e humilhações, resolve assumir esse desafio e aprovar uma lei abolindo o tráfico de escravos no Império Britânico. Mais tarde, Wilberforce afirmaria que: "Deus todo-poderoso colocou diante de mim dois grandes objetivos, a supressão do comércio de escravos e a reforma dos valores morais".

A fim de executar o objetivo colocado por Deus em sua vida, Wilberforce promoveu uma campanha altamente avançada para conscientizar os eleitores e os parlamentares dos horrores da escravidão. No entanto, ano após ano Wilberforce apresentava seu projeto sem sucesso. Sucesso esse que só viria nos últimos dias de sua vida.

O filme retrata também o papel relevante desempenhado por sua mulher Barbara Spooner e pelo pregador e ex-traficante de escravos John Newton, que era seu verdadeiro pai espiritual cuja história também estava tão intimamente ligada aos males da escravidão. O famoso hino Amazing Grace composto por Newton e que dá nome à produção também ocupa um lugar especial no longa, servindo como uma espécie de mote à história contada e sendo entoado diversas vezes em momentos decisivos da vida de Wilberforce.

O filme traz diversos ensinamentos e é riquíssimo para os cristãos na sociedade de hoje. Wilberforce é um exemplo de cristão que assumiu sua responsabilidade dentro da sociedade e a reforma que operou é de uma importância incrível, não obstante freqüentemente ignorada pelos livros de história. Segundo Robinson Cavalcanti,

"Wilberforce era um representante típico de uma parcela de cristãos da sua geração (final do século XVIII e início do século XIX), alguém que conciliava em uma síntese, que é, antes de tudo bíblica, a piedade, a sã doutrina, a reflexão e o engajamento comprometido como os valores do reino de Deus. Um convertido que buscava a presença de Deus, se comprometia com a Sua verdade, que pensava sobre a fé, mas que não ficava na alienação da adoração subjetiva e mística nem no academicismo de leituras como fim, mas que punha a sua piedade refletida na ação conseqüente, o que é diferente de um ativismo febril e árido. Somente esse tipo de cristão é quem faz história. O crescimento de milhares de cristãos sem esse comprometimento resulta em uma fé sem impacto." (Prefácio de: Wilberforce, William. Cristianismo Verdadeiro. Brasília: Palavra, 2006, p. 14.)

O cristão deve levar a sério o chamado de Deus para fazer a diferença no meio da sociedade e seu exemplo deve servir de modelo para o problemático mundo moderno. A prática religiosa não deve ficar limitada ao campo da vida privada, aos retiros espirituais, às orações a portas fechadas e à apreciação estética do culto. O cristianismo realiza sua missão plena exatamente quando deixa o âmbito privado e transborda para alçancar o mundo. Dostoiévski lamentou, certa vez, que a Igreja em certo ponto de sua história tenha querido deixar de ser Igreja para se tornar Estado e expressava o seu desejo de que algum dia o Estado, que podemos entender aqui também como sociedade, se tornasse Igreja. Com isso, o brilhante escritor russo expressou a grande necessidade de que a Igreja deixe de ser conformada pelo mundo e passe a afirmar a sua identidade como Igreja, ou seja, sal da terra e luz do mundo. Falta à Igreja no Brasil hoje aquela postura de "alvoroçar o mundo" adotada pelos primeiros cristãos e descrita pelo livro de Atos. Wilberforce assumiu esse desafio. Estaremos prontos para assumi-lo também?

Assista abaixo o trailer do filme.

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