terça-feira, 24 de novembro de 2009

Vozes noturnas


Dietrich Bonhoeffer foi um teólogo-poeta que viveu em um dos momentos mais sombrios do século XX, durante o regime Nacional-Socialista Alemão. Foi um dos líderes da Igreja Confessante, ala da igreja evangélica alemã contrária ao governo de Hitler. Por sua oposição militante contra o regime, foi preso e, por fim, executado. Sua obra tem uma enorme importância para todo o pensar teológico posterior. As principais obras de Bonhoeffer são Discipulado e Ética, ambas disponíveis em nossa biblioteca. Além de teólogo brilhante, era também poeta, não só quando se propunha a escrever versos, mas até em suas obras mais acadêmicas. O poema transcrito abaixo está entre os escritos durante o cárcere e demonstra a esperança pelo dia glorioso.


Extraído de: Bonhoeffer, Dietrich. Prédicas e alocuções. Tradução de Harald Malschitzky, São Leopoldo: Sinodal, 2007, p. 94-95.


Vozes noturnas

Por Dietrich Bonhoeffer


Esticado no meu catre,

fito a parede cinzenta.

Lá fora uma noite de verão

que não me conhece

cantando a terra adentra.

Silenciosas as ondas do dia

em praia eterna rebentam.

Dorme um pouco!

Recupera corpo e alma, cabeça e mão!

Lá fora povos, casas, espíritos e corações estão em chamas.

Até que depois da rubra noite

teu dia irrompa -

sê constante!


(...)


Calmos e firmes a todos enfrentamos,

como acusados somos nós que acusamos.


Diante de ti somente, Criador de todo ser,

diante de ti pecado podemos ter.


Com medo de sofrer e pobres no agir,

diante das pessoas acabamos por te trair.


Vimos a mentira erguer a cabeça altiva

e não demos à verdade a honra devida.


Vimos irmãos em grande necessidade,

e só a nossa morte tememos de verdade.


Diante de ti como homens comparecemos,

confessando os pecados que cometemos.


Senhor, passados estes dias de turbulência,

agracia-nos com tempos de constância!


Permite que após tanta desventura

vejamos o despontar de nova aurora!


Faze que até onde com a vista alcançamos

caminhos à tua palavra preparemos.


Até que apagues a nossa culpa

dá-nos a paciência necessária.


Com tranquilidade queremos nos preparar,

para quando a novos tempos fores nos chamar,


até tempestade e ondas acalmares

e por tua vontade milagres fizeres.


Irmão, até que a noite chegue ao fim,

ora por mim!


(...)


Esticado no meu catre,

fito a parede cinzenta.

Lá fora uma manhã de verão

que ainda não é minha

cantando a terra adentra.

Irmãos, até que após a longa noite

nosso dia irrompa,

sejamos perseverantes!

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