segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

"A Cabana", de William P. Young

Por Roberto Torres Hollanda

Um romance, escrito em 2005 por um vendedor profissional, William P. Young, e publicado em 1º. de maio de 2007 por dois ex-pastores, Wayne Jacobsen e Brad Cummings, no qual foram gastos 300 dólares para sua divulgação, que entrou em oitavo lugar na lista dos livros mais vendidos, organizada pelo “USA Today” (01 mai 2008), tem alvoroçado cristãos aficionados da literatura religiosa.

O propósito do autor de “The Shack” (A Cabana) era atingir as pessoas “espiritualmente interessadas”; no início, seus seis filhos. As editoras religiosas julgaram o tema do livro muito polêmico; as profanas, muito piegas. Por isso, Cummings e Jacobsen resolveram criar uma editora (“Windblown”, Califórnia, EUA) para publicar o livro. Em maio de 2008 já tinham sido impressos mais de 800 mil exemplares.

Um especialista do mercado editorial afirmou que o público não estava interessado na ortodoxia teológica, mas no impacto emocional causado pelo romance.

Apenas um ano depois de publicado, “A Cabana” era o no. 1 da lista do “The New York Times” (08 jun 08), com mais de um milhão de exemplares vendidos.

Alguns líderes cristãos acusaram “A Cabana” de ser um livro herético.

Mas Eugene Peterson, exageradamente, comparou “A Cabana” com “O Peregrino”, de John Bunyan.

Raras vezes aconteceu tanta celeuma a respeito de ficção religiosa; nas Igrejas, tamanho interesse por um livro profano. Incontestavelmente, o romance capturou a imaginação de muitos leitores, católicos, protestantes, evangélicos e ateus.

A revista “Christianity Today” (10 jul 08) considerou-o não provávelmente herético, mas certamente incomum ao tratar da doutrina da Santíssima Trindade, debatida desde o tempo de Tertuliano (155-222). Young retrata as Pessoas da Trindade assim: Deus é uma mulher afro-americana; Jesus é um carpinteiro do Oriente Médio; o Espírito Santo é uma mulher asiática. 

 “The Washington Times” (07 ago 08) preferiu dizer que “A Cabana” é um romance não-ortodoxo, dirigido a cristãos desencantados com as Igrejas. Já atingia dois milhões de exemplares vendidos. Young disse que o livro tinha tornado Deus “acessível às multidões” (sic). Na verdade, Deus passava a ser visível e parte da Criação, porque assumiu um corpo físico, que, aliás, tinha a aparência de mulher. Cummings achava que “o público quer textos espirituais e está cansado de pregações”. 

 Mark Driscoll, pastor de uma megaigreja em Seattle, considerou o livro (http://videos.gospelmais.com.br/ - http://pagels.teamexpansion.org/) herético em relação à Santíssima Trindade. 

Em agosto de 2008, o livro foi lançado no Brasil pela “Sextante”; já no dia 27 desse mês entrou na lista dos mais vendidos. O cronista literário da “VEJA” (08 out 08) assinalou o fato de que livros de ficção estavam oferecendo “até comunicação direta com Deus”, não se contentando “em distrair o leitor nas horas vagas”. Formalmente, é um romance, mas serve “para consolar o leitor”. Em “O Diário de um Mago”, de Paulo Coelho, o leitor tinha uma história de iniciação esotérica. Em “A Cabana”, o leitor pode prescindir das Igrejas, sejam quais forem, e dos teólogos. Na revista, Young, pelo menos desde a edição de 24 fev 2010, esteve no topo da lista; nela permanecia durante as últimas 80 semanas consecutivas! 

 O romancista metido a teólogo esteve no Brasil em outubro de 2008; o comentarista da “VEJA” disse que “a heresia compensou” ... Quando chegou a Curitiba (PR) Young soube que quatro milhões de exemplares estavam espalhados pelo mundo. A “Gazeta do Povo” (29 out 08) revelou que Young acredita na Santíssima Trindade, mas não tem religião; sua vida (ou a vida de “Mack”, o protagonista do romance) teve duas crises: quando passou a duvidar de tudo e quando encontrou, na cabana, Deus, Jesus e o Espírito Santo – e repensou tudo. 

 Compramos, em Brasília, no dia 08 de abril p. p., nosso exemplar do livro, cuja venda talvez tenha ultrapassado a marca dos 10 milhões, traduzido para mais de 30 idiomas. 

 No livro, Young tenta (a partir da página 70), a seu modo, responder a questões cruciais do relacionamento do homem com a Trindade. Suas conversas (a partir da p. 76) são muito irreverentes, esquisitas, heréticas e anti-bíblicas. Basta dizer que “Deus” e o “Espírito Santo” revelam a Young que tinham assumido, no passado, a forma humana (p. 89). Por sua vez, “Jesus” não tinha qualquer poder (p. 90) em Si mesmo, mas declara-se como “o melhor caminho”. “Deus” não quer punir os pecadores (p. 109), mas a Bíblia (II Timóteo 4: 8; Hebreus 12: 23; Tiago 5: 9) diz que Deus Pai é juiz. Para Young, existe absoluta igualdade na autoridade das Pessoas da Trindade e submissão dessas Pessoas ao ser humano; isto pode levar à idolatria (p. 114). O protagonista parece surpreso com o universalismo de Deus Pai, pronto a receber e reconciliar-se com todos os pecadores. Young reanima o Modalismo do século 4 e nega a hierarquia entre as Pessoas da Trindade. 

 A Igreja cristã, desde os seus primórdios, tem discutido sobre a Trindade; sua teologia é bem diferente das conversações dos personagens de Young. 

 Parece que, entre os 10 ou mais milhões de leitores de “A Cabana”, muitos são evangélicos. Pelo menos, acessando vários blogs, encontramos evangélicos postando mensagens simpáticas ao romance e à ideologia de Young. “A Cabana” não introduziu nas mentes dos evangélicos, mas, certamente, está popularizando essa ideologia. É, inegavelmente, um livro de leitura insinuante e sedutora. Leitor, cuidado! 

 Young e seus admiradores podem alegar que “A Cabana” é mera obra de ficção. Mas, na verdade, difunde argumentos de caráter pseudo-teológico. Isso, muitos crentes não percebem, e não conferem o texto profano com a Bíblia. 

 Um fato podemos constatar: a falta de conhecimento bíblico e teológico nas igrejas evangélicas da atualidade. Talvez esteja acontecendo com os alunos da Escola Bíblica Dominical o que aconteceu com “Mack”, o protagonista de “A Cabana” (p. 185): “Tinha as respostas certas algumas vezes, mas não conhecia vocês”.

Um comentário:

  1. Concordo plenamente. Li este livro em 2010 e estranhei desde o início da leitura. Completamente fora da realidade bíblica e uma pedra de tropeço para os leitores evangélicos. A mensagem do livro reduz Deus a mero espectador da vida neste mundo. Somente crentes sem conhecimento bíblico caem na armadilha de "A Cabana".

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