quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Segundo Salmo de Davi


João de Deus Nogueira Ramos (1830-1896), foi um poeta lírico português, autor de uma obra singular, rica em musicalidade e que, embora inserida no período histórico do Romantismo, não se subscreve com plena adequação a essa escola estética. O poema transcrito abaixo foi extraído da coletânea Flores do Campo e é uma paráfrase do Salmo 2, que é um salmo messiânico.

"Por que se enfurecem os gentios e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o SENHOR e contra o seu Ungido, dizendo: Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas. Ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles. Na sua ira, a seu tempo, lhes há de falar e no seu furor os confundirá. Eu, porém, constituí o meu Rei sobre o meu santo monte Sião. Proclamarei o decreto do SENHOR: Ele me disse: Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei. Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra por tua possessão. Com vara de ferro as regerás e as despedaçarás como um vaso de oleiro. Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos advertir, juízes da terra. Servi ao SENHOR com temor e alegrai-vos nele com tremor. Beijai o Filho para que se não irrite, e não pereçais no caminho; porque dentro em pouco se lhe inflamará a ira. Bem-aventurados todos os que nele se refugiam." Salmo 2.


Segundo Salmo de Davi

Por João de Deus

Porque anda o mundo todo enfurecido,
Se esforços contra Deus são todos vãos?
Os grandes, mais os reis, deram as mãos
Contra o Senhor, contra o seu Ungido,

—Estas correntes, é despedaçá-las,
Este jugo atirar com ele fora!
E lá cima no céu, o que lá mora
Não faz mais que sorrir-se de tais falas.

Mas em lhe dando a ira, aonde então
Se hão de meter, com medo, os desgraçados!
Coroou-me rei no alto de Sião,
Cumpre-me publicar os seus mandados.

-Tu és meu filho; disse-me o Senhor:
Gerei-te hoje; pedir com confiança!
Verás o mundo todo ao teu dispôr,
Terras e povos, como propria herança.

-Vara de ferro para os ir guiando,
E fazê-los guardar-te obediência;
E eles de barro mal cozido e brando
Que os partas em te opondo resistência.

Agora pois vós outros, reis, juizes,
Reparai no que eu digo, e vede lá;
Servi a Deus, e dai-vos por felizes
Cumprindo à risca as ordens que ele dá.

Tomai os meus conselhos; ou, senão,
Tende já como certa a perdição.
Que em se ele irando, é como um raio; aquele
Que o despreza e não crê, infeliz d'ele!

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