sexta-feira, 5 de março de 2010

Uma Introdução à Espíritualidade Cristã


Uma Introdução à Espiritualidade Cristã de Alister McGrath é um livro de linguagem simples e didático a respeito de "um dos assuntos mais fascinantes que alguém pode estudar"(p.15). Sua leitura não pressupõe nenhum conhecimento prévio especial sobre o assunto, cumprindo assim sua função como texto introdutório.

MacGrath define a espiritualidade como "a busca por uma vida religiosa autêntica e satisfatória, envolvendo a união de idéias específicas de determinada religião com toda a experiência de vida baseada em e dentro do âmbito dessa religião"(p. 20). "Espiritualidade é a prática na vida real da fé religiosa de uma pessoa - o que a pessoa faz com o que crê"(p. 20). A definição do professor britânico, portanto, admite a possibilidade de outras espiritualidades, que não a especificamente cristã. Nesse sentido, o autor define, com auxílio do conceito mais geral, a espiritualidade cristã como "a busca por uma existência cristã autêntica e satisfatória, envolvendo a união das idéias fundamentais do cristianismo com toda a experiência de vida baseada em e dentro do âmbito da fé cristã" (p.20). "No cristianismo, a espiritualidade significa viver o encontro com Jesus Cristo. A expressão 'espiritualidade cristã' refere-se a como a vida cristã é entendida e às práticas devocionais explícitas desenvolvidas com vistas a nutrir e sustentar esse relacionamento com Cristo. A espiritualidade cristã pode, então, ser compreendida como a maneira pela qual indivíduos ou grupos cristãos buscam aprofundar sua experiência com Deus ou 'praticar a presença de Deus', para usar uma frase associada particularmente ao Irmão Lourenço" (p. 21).

Assim, a espiritualidade cristã se relaciona intimamente com a teologia e assim como ela está sujeita a variações que dependem de uma grande quantidade de variáveis: pessoais, denominacionais, históricas e relativas a posições em relação ao mundo e à cultura, que determinam diferentes práticas e costumes devocionais. Algumas das variações mais discerníveis na espiritualidade cristã estão ligadas às tradições denominacionais. Católicos, Ortodoxos e Protestantes apresentam diversidade nas ênfases e nos costumes facilmente observável.

Geoffrey Wainwright, citado por MacGrath, afirma também que é possível identificar cinco tipos básicos de espiritualidade cristã baseados nas atitudes de certos grupos na história para com a cultura.

O primeiro tipo é caracterizado pela posição de "Cristo contra a cultura". Essa é a abordagem que afirma o mundo como um ambiente hostil à fé cristã. Essa foi a espiritualidade da Igreja dos primeiros séculos, que tendia a desconfiar, ainda que respeitosamente, das autoridades oficiais e a procurar um distanciamento do mundo. A culminação dessa visão resultou no monasticismo. Essa atitude existe até hoje e influencia várias práticas cristãs na atualidade.

O segundo tipo é o "Cristo da cultura", que tende a uma atitude positiva em relação à cultura, afirmando que é necessário imiscuir os elementos da religião e da cultura em geral. Segundo MacGrath, foi essa a atitude da Igreja nos tempos de religião oficial do Império Romano e no Protestantismo Liberal do século XIX.

O terceiro tipo é o "Cristo acima da cultura" que reconhece a bondade imperfeita do mundo e da cultura, mas que acredita que, por meio da fé cristã, eles podem ser elevados e aperfeiçoados. Essa é a visão promovida por Tomás de Aquino na dualidade entre natureza e graça.

O quarto tipo é "Cristo e a cultura em paradoxo". Nesse tipo, afirma-se que, embora a cultura não seja essêncialmente má, é necessário que o cristão esteja preparado para as tensões e lutas que certamente ocorrerão. Segundo Niebuhr, Lutero era o perfeito representante dessa tendência. Wainwright também incluía Dietrich Bonhoeffer entre os integrantes dessa corrente.

O quinto tipo, "Cristo tranformador da cultura", se assemelha bastante ao "Cristo acima da cultura" e também enfatiza a necessidade de transformar a cultura, porém como uma esperança escatológica: o futuro redimirá a cultura. Wainwright inclui os irmãos Wesley nessa corrente pela sua ênfase constante na conversão e no aperfeiçoamento pessoal.

MacGrath aborda também a importância das principais doutrinas cristãs no desenvolvimento da espiritualidade, bem como das figuras da espiritualidade bíblica: festas, peregrinações, exílio, trevas e luz, purificação, deserto e silêncio. O erudito inglês fala sobre a importância do tempo de do espaço na espiritualidade: a prática de reservar certas datas comemorativas, a divisão em semanas, o dia monástico, a posição do templo, sua decoração e arquitetura, etc. É tratado também o problema do uso de imagens e símbolos como auxílio para a espiritualidade e os desafios da idolatria.

Por fim, o autor parte para a análise de textos tradicionais da espiritualidade cristã na história e aponta para a contribuição da leitura e meditação nesses textos para o aperfeiçoamento da vida cristã prática.

Trata-se de um excelente livro, que concilia erudição e simplicidade. Embora possua a estrutura de livro texto de um curso, pode ser lido sem enfado e continuamente como um livro comum.

Todas as citações foram extraídas de: McGrath, Alister. Uma introdução à espiritualidade cristã. São Paulo: Vida, 2009.

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