“Porém Deus disse a Abraão: (...) em tudo o que Sara te diz, ouve a sua voz;” Gênesis 21. 12.
Quem não deseja ouvir a voz de Deus? Deus nos fala: através da oração, leitura bíblica, circunstâncias e dos outros. O outro pode representar para nós a voz de Deus. Ao se reconciliar com Esaú, disse Jacó: “tenho visto o teu rosto, como se tivesse visto o rosto de Deus” (Gn 33. 10). Para Abraão a voz de Deus estava na voz de Sara e isso como uma revelação e ordem explícita de Deus. Contudo, a história de Abraão nos traz um problema: Abraão, quando ainda era Abrão ouviu a voz de Sara, quando esta ainda era Sarai: “E ouviu Abrão a voz de Sarai” Gênesis 16. 2. Qual a diferença entre ouvir a voz de Sarai e ouvir a voz de Sara? Por que em um caso veio o fracasso e na segunda vez a voz dela foi canal da própria voz de Deus? Em princípio percebemos que a diferença entre as duas situações estava no comando divino, i.é., Abrão quis ouvir a voz de Sarai, mas Deus mandou Abraão ouvir a voz de Sara!
Significativamente o nome Sarai significa princesa e esta personagem bíblica, antes da transformação identificada pela mudança de seu nome (17: 15 - de Sarai para Sara), representa simbolicamente a presunção da nobreza espiritual, a síndrome de princesa! Nós podemos ouvir por trás da voz da presunção da nobreza as atitudes: a) de culpar Deus por seus próprios defeitos (16: 1-6); b) de agir de forma voluntariosa (16: 6); c) de fazer o mal em nome do bem, invertendo os valores (16: 6); d) de errar ativa e obstinadamente contra si mesmo (16: 3, 5); e) de esperar sempre e em primeiro lugar o melhor dos outros e não de si mesmo (16: 5); f) de invocar o nome de Deus para reparar seus erros (16: 5b) e finalmente g) de valorizar e favorecer as conquistas humanas acima das dádivas divinas.
O nome Sara significa mulher nobre e ela representa simbolicamente o estado de nobreza. Nós podemos ouvir, por trás da voz do estado de nobreza, as atitudes de: a) ainda cometer erros e duvidar (18: 12, 15) porque afinal se é humana e falível; b) ainda sofrer e correr riscos (20: 2, 13); c) trazer um “véu dos olhos”, isto é, ser declarada justa (20: 16); d) ser alvo da Graça, do favor imerecido do Deus que vem à nós com Graça, cura e transforma os nossos “defeitos” (21: 1); e) ter uma vida determinada por Deus (21: 2); f) Viver em sintonia com a vontade de Deus (21: 10) e finalmente, g) valorizar e favorecer as dádivas divinas acima das conquistas humanas.
A ordem divina dada a Abraão de “ouvir a voz da mulher”, é ordem divina dada a todos nós, filhos de Abraão pela fé (Gálatas 3. 7), para que ouçamos as vozes desses dois exemplos: de Sarai, a fim de que abandonemos toda a pretensão de nobreza espiritual! De Sara, a fim de que imitemos o genuíno e vívido estado de nobreza.
Sarai, Sara... Esses dois nomes representam duas formas de viver a nossa experiência com Deus e com os outros, com Deus e com a família, com Deus e com o outro. Sarai representa, sobretudo a escolha em viver a vida prioritariamente a partir do primado das conquistas humanas. Sara, a escolha de viver a vida prioritariamente a partir do primado das dádivas divinas. Qual a sua escolha? Qual das duas vozes você vai ouvir?
Pr. Josué Mello Salgado
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