terça-feira, 20 de outubro de 2009

Oração das Obras do Amor


Sören Kierkegaard foi um filósofo e teólogo dinamarquês do século XIX que estudou profundamente a relação entre razão e fé. Suas obras são de uma relevância inquestionável. É considerado por muitos o pai da filosofia da existência e, de fato, as idéias desse autor se fazem presentes de forma marcante em ícones dessa corrente como Heidegger e Jaspers. Em teologia, a influência de Kierkegaard foi determinante na crítica da teologia liberal de Schleiermacher e de Harnack, empreendida pelo movimento Neo-ortodoxo. Karl Barth admite que sua principal influência num primeiro momento, especialmente em sua conhecida obra Carta aos Romanos, foi exatamente a filosofia de Kierkegaard.


Um dos diferenciais do estilo kierkegaardiano de fazer filosofia é a utilização contínua de figuras poéticas para ilustrar e reforçar seus argumentos. Algumas de suas obras filosóficas são verdadeiras obras-primas literárias como O diário de um sedutor e Temor e tremor. O texto transcrito abaixo é a oração introdutória de Kierkegaard a um conjunto de pregações a respeito do amor chamado As obras do amor. "Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em haver Deus enviado seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio dele. Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Nós amamos porque ele nos amou primeiro." (I João 4: 9-10, 19)


Oração das Obras do Amor


Como se poderia falar corretamente do amor, se Tu fosses

esquecido,

Ó Deus do amor,

de quem provém todo o amor no céu e na terra;

Tu, que nada poupaste, mas tudo entregaste em amor;

Tu que és amor, de modo que o que ama só é aquilo que é

por permanecer em Ti!

Como se poderia falar corretamente do amor, se Tu fosses

esquecido,

Tu revelaste o que é o amor;

Tu, nosso salvador e reconciliador,

que deste a Ti mesmo para libertar a todos!

Como se poderia falar corretamente do amor, se Tu fosses

esquecido,

Espírito de Amor,

que não reclamas nada do que é próprio Teu,

mas recordas aquele sacrifício do Amor,

recordas ao crente que deve amar como ele é amado,

e amar ao próximo como a si mesmo!

Ó, Amor Eterno,

Tu que estás presente em toda a parte

e nunca deixas sem testemunho quando te invocam,

não deixa sem testemunho aquilo que aqui deve ser dito sobre

o amor,

ou sobre as obras do amor.

Pois decerto há poucas obras que a linguagem humana,

específica e mesquinhamente, denomina obras de amor;

mas no céu é diferente,

aí nenhuma obra pode agradar se não for uma obra de amor:

sincera na abnegação,

uma necessidade do amor,

e justamente por isso sem a pretensão de ser meritória!

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