Sören Kierkegaard foi um filósofo e teólogo dinamarquês do século XIX que estudou profundamente a relação entre razão e fé. Suas obras são de uma relevância inquestionável. É considerado por muitos o pai da filosofia da existência e, de fato, as idéias desse autor se fazem presentes de forma marcante em ícones dessa corrente como Heidegger e Jaspers. Em teologia, a influência de Kierkegaard foi determinante na crítica da teologia liberal de Schleiermacher e de Harnack, empreendida pelo movimento Neo-ortodoxo. Karl Barth admite que sua principal influência num primeiro momento, especialmente em sua conhecida obra Carta aos Romanos, foi exatamente a filosofia de Kierkegaard.
Um dos diferenciais do estilo kierkegaardiano de fazer filosofia é a utilização contínua de figuras poéticas para ilustrar e reforçar seus argumentos. Algumas de suas obras filosóficas são verdadeiras obras-primas literárias como O diário de um sedutor e Temor e tremor. O texto transcrito abaixo é a oração introdutória de Kierkegaard a um conjunto de pregações a respeito do amor chamado As obras do amor. "Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em haver Deus enviado seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio dele. Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Nós amamos porque ele nos amou primeiro." (I João 4: 9-10, 19)
Oração das Obras do Amor
Como se poderia falar corretamente do amor, se Tu fosses
esquecido,
Ó Deus do amor,
de quem provém todo o amor no céu e na terra;
Tu, que nada poupaste, mas tudo entregaste em amor;
Tu que és amor, de modo que o que ama só é aquilo que é
por permanecer em Ti!
Como se poderia falar corretamente do amor, se Tu fosses
esquecido,
Tu revelaste o que é o amor;
Tu, nosso salvador e reconciliador,
que deste a Ti mesmo para libertar a todos!
Como se poderia falar corretamente do amor, se Tu fosses
esquecido,
Espírito de Amor,
que não reclamas nada do que é próprio Teu,
mas recordas aquele sacrifício do Amor,
recordas ao crente que deve amar como ele é amado,
e amar ao próximo como a si mesmo!
Ó, Amor Eterno,
Tu que estás presente em toda a parte
e nunca deixas sem testemunho quando te invocam,
não deixa sem testemunho aquilo que aqui deve ser dito sobre
o amor,
ou sobre as obras do amor.
Pois decerto há poucas obras que a linguagem humana,
específica e mesquinhamente, denomina obras de amor;
mas no céu é diferente,
aí nenhuma obra pode agradar se não for uma obra de amor:
sincera na abnegação,
uma necessidade do amor,
e justamente por isso sem a pretensão de ser meritória!
Nenhum comentário:
Postar um comentário