O post de hoje é um estudo hermenêutico sobre a narrativa bíblica do Êxodo feito pelo nosso querido Pr. Evandro. Trata-se de um convite à reflexão sobre o tema da soberania divina e sobre a forma como Deus age na história. Vamos a ele:
Não quero fazer uma pregação, quero propor um estudo, na verdade, um esforço hermenêutico sobre uma passagem que, acredito, todos conhecemos sobejamente.
Quero falar sobre Moisés, sobre um pedaço da história de sua vida, mas sob uma nova perspectiva. Possível, ou não, nunca saberemos de fato... quem sabe? Por isso vamos lançar sobre a história do Êxodo o seguinte questionamento: e se...?
E se ela não tivesse ocorrido da forma como narra o texto, poderia ter ocorrido de outra?
Quero dizer, e se Moisés não tivesse assassinado aquele egípcio?
Sim, porque toda uma série de acontecimentos que se desencadeiam na vida de Moisés são como conseqüência deste ato primeiro, ao que somos levados a questionar: era da vontade de Deus que ele matasse aquele homem?
Certamente não. Podemos fazer essa assertiva tanto tomando por base aquilo que conhecemos de Deus, quanto um princípio hermenêutico antigo, mas ainda válido retirado da obra de Agostinho "De Doctrina Cristiana" que prescreve que qualquer interpretação feita de uma certa parte do texto poderá ser aceita se for confirmada por outra parte do mesmo texto, e deverá ser rejeitada se a contradisser.
Porém, é a partir daí que temos Moisés no deserto.
Em decorrência de uma má escolha, ele vai conhecer o calor e a aridez do deserto. Vai deixar o palácio do faraó para andar errante por uma terra estranha, sozinho e sem esperança. Contudo, Moisés não deixa de experimentar ali no deserto a providência do Senhor. É ali que ele conhece sua esposa, é ali que ele tem seus filhos, é ali que ele tem um encontro com o próprio Deus, e é ali, também, que ele é chamado para ser o libertador do povo de Israel, alguém poderia dizer.
Mas, e se...
Quero dizer: tudo isso não poderia ter acontecido de outra forma?
E se Moisés não tivesse tirado a vida daquele egípcio?
Não considerar essa hipótese é quase afirmar que Deus precisava, ou mesmo, contava com o homicídio cometido por Moisés para que pudesse colocar em prática seu plano para a vida dele e para a vida de Seu povo.
Ou, caindo num absurdo ainda maior, mas muito comum em nossos dias, e em algumas de nossas igrejas, poderíamos pensar que Moisés não teria outra escolha diante da “soberania” sufocante do criador sobre a vontade do homem, em última análise.
Se Moisés não tivesse matado aquele homem, provavelmente, ainda o teríamos no palácio.
E se a salvação de Israel tivesse sido arquitetada a partir do trono?
Que isso... é uma afronta a soberania de Deus o que você está propondo? Alhures, alguém poderia dizer. Ao que eu questionaria: por um acaso a soberania de Deus pode sofrer afronta de um homem?
Analisemos:
1. A forma milagrosa como a vida de Moisés foi poupada;
2. Onde ele foi criado;
3. Como ele foi educado (príncipe); e
4. Que possibilidades de ascensão ao trono ele teria.
Um êxodo mais fácil, menos sangrento, menos sofrido, talvez, até mais "divino‟, mais "soberano‟, parece se desenhar.
A verdade é que em nossas vidas uma história, muito parecida com a de Moisés, parece se trançar.
Certamente, Deus fez planos para as nossas vidas na eternidade. E do alto de sua onisciência ele trabalhou com todas as possibilidades para nossa existência. Ele não deixou nenhuma de fora, nem mesmo as piores, o que não quer dizer que ele as desejou, ou as determinou para nós.
Mas, fizemos muitas más escolhas. Temos errado, assustadoramente, o caminho. Temos dado “cabeçadas” em várias direções e, às vezes, Deus, por sua misericórdia infinita, até permite que sejamos bem sucedidos, mas o fato é que o deserto tem nos castigado.
No entanto, olhar para a vida de Moisés desta forma, como hoje propusemos, nos dá a tranqüilidade para afirmar que esteja vc hoje como estiver, e onde estiver, por maiores que tenham sido os teus erros – ainda que tenha sido tirar a vida de um homem, como foi o de Moisés, OS PLANOS DE DEUS PARA A SUA VIDA AINDA CONTINUAM INTACTOS, EM SEU PROJETO ORIGINAL, COMO FORAM ARQUITETADOS POR ELE NA ETERNIDADE.
Os planos de Deus para as nossas vidas são imutáveis, A SOBERANIA DE DEUS NÃO PODE SER AFRONTADA POR HOMENS.
Deus pode, ainda hoje, e em qualquer momento que vc decidir por, realizar aquilo que ele planejou para você.
Fugir para o deserto e continuar andando nele só depende de nós. Podemos ser abençoados lá também, mas existe sempre a possibilidade de experimentarmos o MELHOR de Deus para as nossas vidas.
Forte Abraço,
Pr Evandro Araújo Beserra Neto