sábado, 7 de novembro de 2009

Diálogos de sabedoria


Muito se fala hoje a respeito de espiritualidade. A procura por livros, palestras e conferências sobre o assunto é enorme. Em certas livrarias, "espiritualidade" virou uma categoria de livros, geralmente localizada ao lado dos livros chamados de "auto-ajuda". Em muitos países, já existe até a figura do personal trainer espiritual profissionalizado. Se por um lado, essa busca por espiritualidade é um bom sinal, pois aponta para o reconhecimento da necessidade uma vida espiritual, por outro demonstra como as práticas do mundo têm se infiltrado na Igreja. Uma grande parte dos livros cristãos sobre "espiritualidade" estão preocupados em apresentar métodos e técnicas para alcançar um nível superior de qualidade espiritual, não é raro vermos livros cristãos com títulos como "Sete passos para a plenitude", "Dez etapas no caminho da felicidade" e etc. Como se fosse possível manipular Deus para criar uma relação artificial com Ele, baseada em nossas próprias obras.


Eugene Peterson, em seu livro Diálogos de sabedoria, explica que a verdadeira espiritualidade está em deixarmos Deus agir em nossa vida, por meio de nossas atividades cotidianas. A grande medida da espiritualidade, para o escritor, não é a capacidade de realizar ações extraordinárias ou, ainda, as experiências místicas, mas o teste de 1João 4:8: "Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor". Diálogos de sabedoria é um livro formado por um conjunto ficcional de cartas escritas pelo autor em resposta ao seu personagem interlocutor chamado Gunnar Thorkildsson, um cientista na casa dos setenta anos, colega de universidade do escritor, que após 40 anos distante de Deus, se reconcilia com Ele e retorna à convivência da Igreja. As cartas contém conselhos do escritor e teológo Eugene Peterson ao seu interlocutor sobre as mais variadas questões relativas à vida cristã como oração, ministério, igreja, teologia, leitura, relacionamentos, entre outros assuntos. Apesar de fictícias, as cartas são inspiradas em cartas reais enviadas pelo autor ao longos dos anos de seu ministério pastoral.


O livro também chama a atenção para o fato de que Deus usa com freqüência os nossos relacionamentos com outros cristãos para o crescimento espiritual. A simples ação de conversamos com nossos amigos a respeito de nossa vida com Deus pode ser decisiva para entendermos melhor a forma como Deus está agindo em nossas vidas e para obtermos a sabedoria, que não pode ser confundida com a simples erudição ou intelectualidade. Peterson testemunha que sua experiência de trocar correspondências sobre os mais diversos problemas da vida o fez crescer na compreensão da vontade de Deus ao pensar em como os princípios contidos nas Escrituras se aplicam a eles, mesmo que elas nunca tenham falado explicitamente sobre alguns desses problemas.


"Não há receita para preparar a 'espiritualidade' e muito menos uma fórmula química para criar a 'vida'. É como aquela conhecidíssima fala de Jesus a Nicodemos, um doutor em religiosidade: ' O vento sopra onde quer. Você o ouve, mas não pode dizer de onde vem e nem para onde vai. Assim acontece com todos os nascidos do espírito' (Jo 3.8).


O melhor que podemos fazer é cultivar a consciência, a vigilância. Assim, quando o Vento soprar, estaremos prontos, preparados para nos deixar levar..." (Peterson, Eugene. Diálogos de sabedoria. Tradução de Lílian Palhares, São Paulo: Vida, 2007, p. 12)

Nenhum comentário:

Postar um comentário