Dietrich Bonhoeffer foi um teólogo-poeta que viveu em um dos momentos mais sombrios do século XX, durante o regime Nacional-Socialista Alemão. Foi um dos líderes da Igreja Confessante, ala da igreja evangélica alemã contrária ao governo de Hitler. Por sua oposição militante contra o regime, foi preso e, por fim, executado. Sua obra tem uma enorme importância para todo o pensar teológico posterior. As principais obras de Bonhoeffer são Discipulado e Ética, ambas disponíveis em nossa biblioteca. Além de teólogo brilhante, era também poeta, não só quando se propunha a escrever versos, mas até em suas obras mais acadêmicas. O poema transcrito abaixo está entre os escritos durante o cárcere e demonstra a esperança pelo dia glorioso.
Extraído de: Bonhoeffer, Dietrich. Prédicas e alocuções. Tradução de Harald Malschitzky, São Leopoldo: Sinodal, 2007, p. 94-95.
Vozes noturnas
Por Dietrich Bonhoeffer
Esticado no meu catre,
fito a parede cinzenta.
Lá fora uma noite de verão
que não me conhece
cantando a terra adentra.
Silenciosas as ondas do dia
em praia eterna rebentam.
Dorme um pouco!
Recupera corpo e alma, cabeça e mão!
Lá fora povos, casas, espíritos e corações estão em chamas.
Até que depois da rubra noite
teu dia irrompa -
sê constante!
(...)
Calmos e firmes a todos enfrentamos,
como acusados somos nós que acusamos.
Diante de ti somente, Criador de todo ser,
diante de ti pecado podemos ter.
Com medo de sofrer e pobres no agir,
diante das pessoas acabamos por te trair.
Vimos a mentira erguer a cabeça altiva
e não demos à verdade a honra devida.
Vimos irmãos em grande necessidade,
e só a nossa morte tememos de verdade.
Diante de ti como homens comparecemos,
confessando os pecados que cometemos.
Senhor, passados estes dias de turbulência,
agracia-nos com tempos de constância!
Permite que após tanta desventura
vejamos o despontar de nova aurora!
Faze que até onde com a vista alcançamos
caminhos à tua palavra preparemos.
Até que apagues a nossa culpa
dá-nos a paciência necessária.
Com tranquilidade queremos nos preparar,
para quando a novos tempos fores nos chamar,
até tempestade e ondas acalmares
e por tua vontade milagres fizeres.
Irmão, até que a noite chegue ao fim,
ora por mim!
(...)
Esticado no meu catre,
fito a parede cinzenta.
Lá fora uma manhã de verão
que ainda não é minha
cantando a terra adentra.
Irmãos, até que após a longa noite
nosso dia irrompa,
sejamos perseverantes!
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