terça-feira, 10 de novembro de 2009

Confissões


Agostinho (354-430) foi o maior teólogo da Igreja Antiga e talvez o de maior influência em toda a história do pensamento cristão. Suas obras lançaram as bases de todo o pensamento cristão medieval e sua influência sobre Lutero, Zwinglio e Calvino compôs as bases intelectuais da Reforma. Sua obra é muito extensa, compreendendo desde tratados de doutrina a conselhos a amigos passando por monumentais obras de apologética. O livro mais conhecido do grande teólogo africano é um conjunto de escritos sobre sua própria vida espiritual, intitulado Confissões. Trata-se de um gênero completamente inédito em sua época, copiado séculos mais tarde pelo filósofo genebrino Rousseau. O texto das Confissões é uma grande e bela oração.


Extraído de: Agostinho, Santo. Confissões; De Magistro. Tradução de J. Oliveira Santos, Ambrósio de Pina e Ângelo Ricci, São Paulo: Abril Cultural, 1980.


I

Invocação ou louvor?


"Sois grande, Senhor, e infinitamente digno de ser louvado." "É grande o vosso poder e incomensurável a vossa sabedoria." O homem, fragmentozinho da criação, quer louvar-Vos; — o homem que publica a sua mortalidade, arrastando o testemunho do seu pecado e a prova de que Vós resistis aos soberbos. Todavia, esse homem, particulazinha da criação, deseja louvar-Vos. Vós o incitais a que se deleite nos vossos louvores, porque nos criastes para Vós e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousa em Vós.


Concedei, Senhor, que eu perfeitamente saiba se primeiro Vos deva invocar ou encomiar, se, primeiro, Vos deva conhecer ou invocar.


Mas quem é que Vos invoca se antes Vos não conhece? Esse, na sua ignorância, corre perigo de invocar a outrem. — Ou, porventura, não sois antes invocado para depois serdes conhecido? "Mas como invocarão Aquele em quem não acreditaram? Ou como hão de acreditar, sem que alguém lhes pregue?" "Louvarão ao Senhor aqueles que O buscarem." Na verdade, os que O buscam, encontrá-Lo-ão, e aqueles que O encontram hão de louvá-Lo.


Que eu Vos procure, Senhor, invocando-Vos; e que Vos invoque, crendo em Vós, pois nos fostes pregado. Senhor, invoca-Vos a fé que me destes, a fé que me inspirastes por intermédio da humanidade de vosso Filho e pelo ministério do vosso pregador."

2 comentários:

  1. Maravilhosa as "Confissões" de Agostinho. O modo como ele argumenta fazendo uso do raciocínio lógico é embriagador. A prova dele de que o mal não é uma substância, mas é ausência do bem é genial. A Biblioteca tem as "Confissões" do Rousseau?

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  2. Não temos as do Rousseau não, mas, de qualquer forma, elas não chegam aos pés das de Agostinho.

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