quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Tempo


António da Fonseca Soares (1631-1682) foi um frade franciscano e poeta português. Em 1662, decidiu abraçar o sacerdócio e a vida monástica, mas acabou se destacando pela beleza de suas poesias. Inserido no padrões estéticos barrocos, seus poemas são permeados do cultismo e do conceptualismo. O soneto transcrito abaixo trabalha a idéia de tempo por meio de vários pequenos jogos lingüísticos num progredir lógico até a conclusão de que devemos usar nosso tempo com sabedoria por conta de nossa finitude e porque prestaremos conta de nosso tempo a Deus.


Soneto

Por Frei António das Chagas

Deus pede hoje estrita conta do meu tempo

E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta.

Mas como dar, sem tempo, tanta conta

Eu que gastei sem conta tanto tempo?

Para ter minha conta feita a tempo,

O tempo me foi dado e não fiz conta.

Não quis, tendo tempo, fazer conta.

Hoje quero fazer conta e não há tempo.

Oh! Vós, que tendes tempo sem ter conta,

Não gasteis vosso tempo em passatempo.

Cuidai, enquanto é tempo em fazer conta.

Pois aqueles que sem conta gastam tempo,

Quando o tempo chegar de prestar conta,

Chorarão, como eu, se não der tempo.


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