domingo, 22 de novembro de 2009

Chamado ao discipulado


Karl Barth afirma, em seu livro Chamado ao discipulado, que a essência do discipulado é o "siga-me" de Jesus. A palavra grega que traduz o sentido do discipulado é akolouthein, que significa "ir após ou atrás de alguém". Esse verbo grego ganha especial importância no Novo Testamento quando é utilizado no chamamento feito aos discípulos para acompanhar o Mestre e para compartilhar sua vida e seu ministério.


Barth enfatiza que o chamado do discipulado é o chamado da graça. Tanto é assim que pouco se fala a respeito do caráter ou das qualificações daqueles que foram chamados. Pelo contrário, os chamados geralmente são aqueles que possuem pouca formação ou que são considerados terríveis pecadores. Nesse sentido, é exemplar a vocação de Levi. Chamado quando estava na coletoria, Levi , um publicano, não é de forma alguma alguém que possa ser considerado merecedor do chamado. Pelo contrário, o seu chamado é muito simples, muito singelo ou, numa expressão bastante adequada para o caso, gratuito. Por outro lado, aqueles que sem serem chamados quiseram seguir ao Mestre provavelmente baseados em seus próprios méritos e em seus próprios ideais, como o homem rico em Marcos 10: 17-18 e o homem em Lucas 9: 57-58, não puderam fazê-lo porque não é possível chegar ao discipulado verdadeiro de forma meritória. Ademais, enfatiza Barth, esses homens não estavam preparados para o discipulado porque ele exige uma resposta incondicional. "A resposta de Jesus deixa claro que essa pessoa não pode ser considerada como um discípulo: 'Ninguém que lança mão do arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus'" (p. 20). Nesse sentido, não é possível servir ao Reino e querer manter a servidão às riquezas; não é possível seguir a Deus só depois de realizar uma ou outra tarefa: é necessário deixar aos mortos enterrar os seus próprios mortos.


Barth reafirma o que Bonhoeffer afirmou a respeito do discipulado como simples obediência. A resposta afirmativa ao chamado repousa sobretudo na pessoa que chama. Isso porque não é possível responder sim ao chamado, senão porque é Jesus aquele que chama. O discipulo não atende à convocação baseado em recompensas ou em glórias, mas pela autoridade do Mestre. Mais uma vez a vocação de Levi é o maior exemplo disso. Jesus é o centro do discipulado porque é ele quem nos torna aptos a deixar tudo para segui-lo.


O chamado ao discipulado não é um programa de ação individual ou social comandado por Jesus. Em vez disso, o discipulado é uma relação pessoal com Jesus Cristo. Jesus nos chama pelo nome e possui um propósito para cada um. Não é possível reduzir o discipulado a um padrão de conduta, muito embora ele implique uma excelência moral, porque certas ordens de Deus não são gerais e abstratas, mas individuais e concretas. Jesus, no discipulado, guia as vidas individualmente, particularmente.


Por fim, o discipulado implica uma mudança radical: a transição para uma nova criatura. É o que Barth chama de "golpe de estado" divino, por meio dele Jesus passa a ocupar o lugar central na vida dos discípulos, o que implica em uma mudança de atitude em relação ao mundo, às posses, à honra, à força, aos vínculos humanos e à piedade. É verdade que a resposta afirmativa ao chamado implica auto-negação, mas também é verdade que "se não suportarmos o fardo de Jesus, temos que suportar o fardo que nós mesmo escolhemos, e este é cem vezes mais pesado " (p. 38).


Para saber mais sobre esses temas com mais profundidade e entender melhor o sentido do discipulado, vale a penar ler Chamado ao discipulado de Karl Barth. O livro está disponível em nossa biblioteca!


Citações extraídas de: Barth, Karl. Chamado ao discipulado. Trad.: Moisés Carneiro Coelho, São Paulo: Fonte Editorial, 2006.

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