sábado, 19 de setembro de 2009

Cristianismo Verdadeiro


Cristianismo Verdadeiro, de William Wilberforce, é um livro dedicado a denunciar o cristianismo morno, exclusivamente cultural, professado pelas classes média e alta da Inglaterra do final do século XVIII e início do século XIX, e contrastá-lo com o verdadeiro cristianismo: o Cristianismo da Escrituras.


Ao ler o livro de Wilberforce, ao mesmo tempo em que temos o prazer de desfrutar de um texto bem escrito, fluente e recheado das verdades do evangelho, ficamos incomodados, pois muito dos problemas por ele diagnosticados naquela época continuam a ser verdadeiros. Por isso, é necessário que levemos a sério o tratamento proposto.



O primeiro problema denunciado por Wilberforce é a deficiência na educação cristã. O cristãos do tempo do autor não buscavam o conhecimento de Deus em primeira mão oferecido pelas Escrituras, limitando-se ao que se ouve falar a respeito de Deus ou, ainda, justificando a falta de estudo com base na idéia de que o que importa mesmo é a sinceridade da crença (qualquer semelhança com os cristãos de hoje não é mera coincidência). Nas palavras de Wilberforce:



"Quão inconsistente é a nossa educação cristã comparada com a educação do mundo.


A linguagem parece muito forte ao me referir a cristãos professos? Observe o plano de vida deles e sua conduta diária. Em que podemos discernir as diferenças entre eles e descrentes confessos? Em uma época quando a infidelidade é abundante, nós os observamos instruindo cuidadosamente seus filhos nos princípios da fé que professam? Eles fornecem a seus filhos argumentos para a defesa dessa fé?" (p.20)



O tratamento de Wiberforce: os cristãos devem buscar o conhecimento da fé nas Escrituras Sagradas, investindo na educação cristã.


O segundo problema apontado pelo autor é a ignorância em relação à radicalidade do pecado na natureza humana. Essa falha leva a uma concepção errônea em relação ao papel da regeneração, do sacrifício de Cristo e da necessidade de viver uma vida justa conforme os padrões divinos.



"Embora as Santas Escrituras declarem claramente a corrupção e fraqueza naturais do homem, elas sempre se opõem ao contrário de tolerar (em qualquer nível), à visão de que a nossa corrupção e fraqueza naturais diminuem as exigências da justiça divina. Aqueles que são otimistas acerca da natureza humana buscam de algum modo justificar nossas transgressões às leis de Deus. Tal noção está em conflito com todo o plano da redenção por meio do sacrifício de Cristo" (p.38)


O tratamento para o segundo problema: compreender e agir corretamente em relação à realidade de que o homem é um ser decaído e corrupto, completamente necessitado da graça de Deus que nos capacita a fazer o bem e agir segundo a Sua vontade.


O terceiro problema apontado por Wilberforce é a aparente incapacidade dos cristãos de sua época de agir como cristãos todos os dias da semana e pôr em prática os ensinamentos colhidos nos cultos:



"Quando o culto termina, nós as apagamos completamente de nossas mentes, até o próximo domingo, quando mais uma vez renovamos nossa humildade e gratidão periódicas." (p.45)


O tratamento de Wilberforce: viver uma vida de compromisso cristão em TODOS os momentos da vida, 24 horas por dia, 7 dias por semana, sem a hipocrisia de um cristianismo nominal e domingueiro.


O quarto problema sinalizado é a exclusão das emoções no culto e na prática religiosa. Havia, naquele contexto, uma visão negativa em relação aos sentimentos. A idéia de que o culto deve ser racional foi confundida com a idéia de que ele deve ser não-emocional, frio. Porém, como bem observa Wilberforce:



"Na verdade, é difícil olhar para qualquer parte da Bíblia sem encontrar provas abundantes de que é a religião das emoções que Deus requer em particular. Amor, zelo, gratidão, alegria, esperança, confiança; a Palavra especifica cada uma delas. Elas não são consideradas fraquezas. Ao contrário, a Bíblia as ordena como nossa tarefa e as recomenda a nós como adoração aceitável." (p.50)


Tratamento do quarto problema: cultivar as emoções que agradam a Deus, levando em consideração que Deus deseja que o sirvamos com todo o nosso ser, com complementaridade entre o elemento racional e emocional.


O quinto problema indicado é o de relegar à religião um lugar muito restrito na vida humana. Wilberforce mostra que muitas pessoas reservam à religião a presença em uma porção muito limitada da suas vidas, como se a condição de cristão tivesse somente um número limitado de repercussões no modo de viver do crente. Desde a época de Wilberforce até os dias de hoje a religião tem sido marginalizada pela sociedade e pelos próprios indivíduos para a ocupar uma posição somente no âmbito da privacidade, nas demonstrações íntimas de religiosidade. Conforme o autor:



"Mas, embora o coração seja a morada especial da verdadeira religião, pode-se dizer que a religião possui de certo modo, a habilidade de estar presente em toda parte em uma pessoa - assim como seu divino Autor. Todo empenho e toda busca devem reconhecer sua presença. Ela é como a circulação de sangue que anima todas as partes do corpo humano e comunica sua influência bondosa a seus menores e mais remotos tecidos.


Mas a noção de religião cultivada por muitos de nós parece totalmente diferente. Eles começam tirando as cercas do campo de ação de um certo território que pode ser produtivo e para o qual podem ter olhado com um olhar de interesse. No entanto, eles o vêem como campo proibido.


Depois, designam para a religião um pedaço de terra - maior ou menor, de acordo com suas visões e circunstâncias - no qual ela tenha meramente uma jurisdição qualificada. Isto feito, eles supõem que têm direito de vagar a esmo pelo restante do amplo território." (p. 74-75)



O tratamento do quinto problema: dedicar a vida como um todo, em todas as suas dimensões, a realizar a vontade de Deus.


O sexto problema é o do amor às honras e aos aplausos humanos, o que demonstra uma transgressão na conduta baseada no orgulho e no egoísmo e um desvio no objetivo máximo na vida dos cristãos que é agradar a Deus e fazer a vontade d'Ele:



"Se parece que nos detivemos desproporcionalmente neste tema, é porque o autor observa as perigosas qualidades e tendências não cristãs desta tentação pelo louvor humano na classes dominantes de nossa sociedade. Ela é uma das manifestações mais comuns de orgulho." (p.98)


O tratamento de Wilberforce é cultivar o caráter cristão:



"O caráter cristão é um espírito composto de firmeza, complacência, paz e amor. Ele se manifesta em atos de bondade e gentileza. Tem uma bondade genuína e não fingida. Ele é uma reverência; não é falso e superficial, mas caloroso e sincero. Na área da popularidade, não é afetado ou insolente. Na área da impopularidade, não é desesperado ou cheio de remorso. Ele é inabalável em sua constância, incansável em benevolência, firme sem ser ríspido e diligente sem polidez." (p.98)


O sétimo problema é supor que o cristianismo se limita à moralidade e à etiqueta:



"A seguinte suposição é comumente feita. A de que a bondade e um espírito doce (que é compassivo, benevolente e generoso), juntamente com a atenção à estima do mundo, são deveres sociais, e, acima de tudo, uma vida de ocupações úteis - estas coisas, supõe-se, podem compensar a ausência da verdadeira religião. Na verdade, muitos declararão que "a diferença entre estas qualidades e a religião é verbal e ilógica, ao contrário de ser real e essencial. Pois, de fato, o que são elas senão religião e ação? Não seria este o grande objetivo da religião, e particularmente não seria esta a glória do cristianismo, iluminar as más paixões, coibir a violência, controlar o apetite e abrandar as aspirações do homem, e nos fazer compassivos, bondosos e perdoadores uns com os outros?" (p. 98-99)


O tratamento para o sétimo problema: ter em mente que a moralidade e a etiqueta sem a fé no sacrifício substitutivo de Cristo são como um corpo sem sua alma, não tem vida e acaba perecendo.


Por fim, segundo Wilberforce, o maior erro dos cristãos nominais é a ignorância quanto à importância da ortodoxia para a ortopraxia:



"Mas o maior e mais radical defeito desses cristãos nominais é o seu esquecimento de todas as principais doutrinas da religião que professam" (p. 111)


O tratamento de Wilberforce: o estudo incessante das Escrituras e sua aplicação na formação das convicções para a vida prática.


Advertência: Os livros da coleção Clássicos da Espiritualidade Cristã editada pela Palavra, da qual Cristianismo Verdadeiro é o primeiro volume, são versões adaptadas e condensadas dos textos originais


Citações extraídas de: Wilberforce, William. Cristianismo Verdadeiro. Trad. Jorge Camargo, Brasília: Palavra, 2006.

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